domingo, 11 de novembro de 2012

A Turma do Charlie Brown (Race For Your Life, Charlie Brown, Bill Melendez and Phil Roman, 1977)



Nada melhor que um filme de animação realmente infantil, mas que trata as crianças com muito respeito, ao fazer uso de um roteiro bem amarrado, com personagens bem construídos e uma mensagem final edificante (não haveria como ser diferente), mas não necessariamente redentora ao extremo. O longa de 1977 da turma do "peanut" Charlie Brown, "Race For Your Life, Charlie Brown", apresenta os clássicos personagens de Charles M. Schulz em um acampamento de férias, competindo em uma corrida de botes com outros personagens, principalmente três garotos maiores e malvados. O enredo básico privilegia o traçado simples dos personagens, reafirma a personalidade de cada um dos garotos (e, claro, do cão Snoopy e do pássaro Woodstock) e tem uma belíssima trilha sonora, bebendo no folk e no jazz. Schulz e os diretores Melendez e Roman, numa época em que a abordagem infantil era bem diferente desta dos dias que correm, ao ironizarem temas adultos, como auto-estima, liderança e democracia, apostaram que estavam falando com crianças espertas. Eles estavam, e essa aposta bem que poderia ser constantemente renovada por outros animadores.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Moonrise Kingdom (Wes Anderson, 2012)



Wes Anderson é um dos poucos cineastas da atualidade que conseguiram criar um mundo próprio que perpassa seus filmes, a exemplo de Tim Burton, Quentin Tarantino ou David Lynch. É um mundo com um visual vintage, personagens blasé, trilha sonora cuidadosamente passadista e um tom predominantemente melancólico. Essas características estão presentes de maneira intensa em seu novo filme, "Moonrise Kingdom", seu melhor trabalho desde "Os Excêntricos Tenenbaums"/"The Royal Tenenbaums" (2001). A história de dois problemáticos pré-adolescentes que fogem de casa para ficar juntos, em uma pequena ilha fictícia no ano de 1965, é de uma delicadeza surpreendente para um autor que parecia se preocupar mais com a forma do que com o conteúdo de seus últimos trabalhos. Aqui ele parece entender bem o universo daqueles garotos que buscam fugir das relações pouco sinceras do mundo dos adultos, que eles sutilmente estavam começando a reproduzir. Anderson invade esse universo por meio de sua já característica câmera em zoom e do onipresente binóculo da garota Suzy, e consegue nos entregar uma saborosa história de amadurecimento, tanto do próprio autor como dos adultos, que são mais infantis do que os próprios moleques.  

domingo, 4 de novembro de 2012

Alois Nebel (Tomáš Luňák, 2011)



Se, como já comentei anteriormente, o hiper-realismo de parte parte das animações atuais tendem a restringir as diversas nuances de suas produções, por outro lado, o uso de elementos de animação podem enriquecer as narrativas do chamado "cinema de carne e osso". O tcheco "Alois Nebel", adapatado por processo de rotoscopia da trilogia de graphic novel homônima, utiliza justamente essas características para imprimir com força os aspectos oníricos e alucinatórios da história de um despachante de trem de um pequeno vilarejo na Tchecoslováquia de fins de 1989 enviado para uma clínica de saúde mental ao confundir constantemente alucinação e realidade, presente e passado.
O filme é, de fato, uma seca reflexão da transição do comunismo para os novos dias na Tchecoslováquia, onde o tempo está constantemente sombrio e fechado, os cenários estão desmoronando, os trens descarrilados e as notícias da transição política chegam aos passivos personagens por meio de longínquas transmissões radiofônicas. É o novo se impondo em um contexto onde o passado sequer foi devidamente assimilado, as feridas da história não se cicatrizaram completamente. Luňák nos mostra de maneira pouco condescendente uma realidade que mudou tão velozmente e tão impositivamente que poucos conseguiram assimilar aquele novo mundo real.    

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Na Neblina (В тумане, Sergei Loznitsa, 2012)



Embora tivesse sido lançado originalmente em 2010, por uma dessas coincidências, só fui assistir ao filme "Minha Felicidade"/"My Joy", do cineasta bielo-russo Sergei Loznitsa este ano, em pleno período turbulento da posse de Vladmir Putin para mais um mandato como presidente da Rússia. Período em que as contradições da ex-República Soviética foram expostas como nunca antes. O filme representou um ótimo diálogo com o momento político, ao radiografar os recônditos de uma violência generalizada, forjada por anos, décadas, de autoritarismo governamental. E tudo isso com uma visão extremamente pessimista, de fazer os irmãos Dardenne parecerem uma dupla de Pollyannas. Foi uma porrada na cara, ou um soco no estômago.
Por isso, as expectativas eram altas quando fui ver esse novo "Na Neblina". E Loznitsa não decepcionou, mostrando ser um dos cinco cineastas mais interessantes do cinema atual. Ao centrar sua narrativa na Bielo-Rússia ocupada pelos alemães em 1942, o autor tem aqui as limitações de seguir uma narrativa propriamente dita - o roteiro é baseado em um romance. Mas o faz de uma maneira tão sublime, e bem menos hermética do que o filme anterior. Aliado à fotografia primorosa e aos planos formidáveis, Loznitsa parece se propor o desafio de usar elementos autorais e artísticos para, enfim, contar uma história no fundo muito simples, mas que evoca elementos já presentes anteriormente em seu cinema, como a relação entre a natureza bruta e a brutalidade das relações, sem fazer quaisquer concessões. Uma via-crucis sem redenção final.

domingo, 28 de outubro de 2012

Camp 14 - Total Control Zone (Marc Wiese, 2012)



O documentário "Camp 14 - Total Control Zone" abre tantas frentes de discussões e evidencia tantas peculiaridades que a história de Shin Dong-Huyk, que nasceu e viveu até os 23 anos em um "campo de prisioneiros" na Coréia do Norte, parece nunca esgotar o tema proposto. Não que o diretor Marc Wiese tivesse alguma intenção de ser definitivo - ele deliberadamente se foca na aterradora narrativa de Dong-Huyk, apenas com intervenções de dois ex-colaboradores do serviço de repressão desses campos de prisioneiros, tão abundantes naquele país. Como esses dois desertados do regime escaparam do país e como é a vida que levam na Coréia do Sul? Como foi a adaptação de Dong-Huyk ao seu novo mundo, do outro lado das grades do campo? São histórias que, por si só, já renderiam filmes próprios.
O que permanece, então, é a descrição crua da vida em um campo que, em última análise, é um "campo de morte" e uma sutil genealogia da degeneração de valores morais e éticos que regimes totalitários (e, nesse caso, sua representação mais extrema nos dias que correm) promovem. Um mundo onde a vigilância e denúncia de comportamentos "impróprios" de seus familiares fazem mais sentido do que a ideia de amor para com eles. Wiese pouco intervem no que o ex-prisioneiro tem a dizer - e, pensando bem, por que deveria? É certo que ele usa elementos que são clichês do gênero de documentários, como longas tomadas silenciosas com os entrevistados fazendo banalidades, e só faz uma intervenção irônica ao longo do filme - muito boa, por sinal, quando, após Dong-Huyk prestar a parte mais dramática de seu depoimento (o testemunho da execução de sua mãe e de seu irmão), o coreano é mostrado visitando uma alegre instituição em Los Angeles que se ocupa em defender os direitos humanos na parte norte da península asiática - como que para situar o espectador na quase impossibilidade de se compreender todo o significado do estado de coisas no país dos Kim. E é disso que se trata o filme, afinal de contas: a conquista do objetivo de todo regime comunista - a criação de um "novo homem", com princípios e valores próprios, sempre às expensas do que, no fim, nos faz humanos.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Racionais MC's - Diário de um Detento



No dia 2 de Outubro de 1992, às vésperas das eleições municipais, o governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho, temendo sair arrasado nas urnas após uma rebelião descontrolada no presídio do Carandiru, autorizou a invasão do complexo penitenciário pela Polícia Militar Estadual, sob a liderança do coronel Ubiratan Guimarães. O resultado disso se tornou célebre: 111 presos indefesos mortos - quase todos pretos. É provável que o número real de vítimas tenha sido maior. Mas o absurdo não parou por aí: Fleury Filho, que deveria ter ido para a cadeia, conseguiu eleger-se deputado federal em 1998 e em 2002. O coronel Ubiratan foi eleito deputado estadual em São Paulo em 2002, com o número 14111.
Em 1998, o grupo de rap Racionais MC's conquistou reconhecimento nacional com a repercussão do álbum "Sobrevivendo no Inferno" e do assombroso hit "Diário de um Detento". A MTV consagrou o grupo na premiação do VMB daquele ano. Os playboys se renderam aos manos, embora o massacre se torne cada vez mais uma passagem desbotada (mais uma) na nossa história.

domingo, 30 de setembro de 2012

Album Cover: Iggy Pop (Préliminaires, 2009)



Em 2007, Iggy Pop emprestou sua voz a um dos personagens da excelente animação "Persepolis", de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud. Em retribuição, Satrapi ilustrou a capa do álbum de 2009 da Iguana, deliciosamente intitulado "Préliminaires", trabalho um pouco frouxo, mas (por que não?) bastante ousado na discografia do velho punk.

Macaulay Culkin e o Coletivo 3MB - Leisure Inferno



O site da "Trip" destaca o novo projeto do Macaulay Culkin, que não tem nada a ver com cinema, mas tudo a ver com cultura pop: o coletivo artístico 3MB, composto também por Toby Goodshank e Adam Green. São pinturas pouco convencionais, bastante perturbadoras e com um pé no surrealismo, que compõem a exposição "Leisure Inferno", em Nova York. Com base no que andei olhando, parece interessante. Que não se esqueçam do ex-moleque desta vez.

sábado, 29 de setembro de 2012

Lou Reed - Ecstasy




A música e as imagens poucas vezes ficaram tão belamente descompassadas como aqui. Ecstasy.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

The Peanuts Underground


Flying Lotus - Until The Quiet Comes, o Album (2012)



Depois do ótimo "Cosmograma", o Flying Lotus volta com outro disco instigante, "Until the Quiet Comes", a ser lançado em 1º de Outubro (mas já facilmente encontrado na rede). A exemplo do trabalho anterior, o artista conta com participações de luxo, como o Thom Yorke em "Electric Candyman" e a Erykah Badu em "See Thru To U".



Se o dubstep já despejou um punhado de porcaria mundo afora, não deixa de ser um consolo sabermos que ao menos há alguns Flying Lotus e Four Tets por aí prontos pra nos livrar do marasmo generalizado.

sábado, 22 de setembro de 2012

domingo, 16 de setembro de 2012

domingo, 9 de setembro de 2012

Atoms For Peace - Default



E parece que a banda "Atoms for Peace", formada por Thom Yorke, Flea, Nigel Godrich, Joey Waronker e o brasileiro Mauro Refosco está se preparando para lançar uma série de material inédito nos próximos meses. O single "Default" é o primeiro resultado. Que venham mais, muito mais.

Kaboom (Gregg Araki, 2010)



A principal qualidade de "Kaboom", do Gregg Araki, é o tesão com que o cineasta dirige o filme. Ao retratar as angústias sexuais de jovens recém-entrados na universidade, Araki chega muito perto daquela que é, talvez, a principal qualidade de um Gus Van Sant: o esforço genuíno para tentar entender um universo do qual ele definitivamente não faz parte. Todas as confusões e idiossincrasias de uma geração que está aprendendo a tratar sua sexualidade de uma maneira tão própria, menos sujeita a rigidez e mais livre em experimentações, estão muito bem colocadas na fita. Apenas o recurso de utilização de uma temática sobrenatural que, se serve para apresentar algumas escolhas narrativas curiosas, por outro lado se mostra bastante frouxa no final, oferece alguma restrição ao longa. Se bem que, ainda ali, Gregg Araki não deixa de homenagear seus retratados através de um "gênero" que lhes é tão caro. 

sábado, 8 de setembro de 2012

Mombojó - Papapa



Um dos melhores vídeos brasileiros dos últimos anos. E Mombojó é mesmo uma das bandas atuais mais interessantes que apareceram por aqui.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

The Lost Thing (Andrew Ruhemann & Shaun Tan, 2010)



Uma das mais belas fábulas modernas sobre sentir-se deslocado, incompreendido ou estrangeiro. O alívio final invariavelmente me recorda outros freaks, aqueles que, lá pro fim do filme do Lynch, ajudam "O Homem Elefante"/"The Elephant Man" em sua fuga. De cortar o coração.

The Kills - Love Is A Deserter

terça-feira, 28 de agosto de 2012

The Kills - Goodnight Bad Morning

Album Cover: Antony and the Johnsons (I Am a Bird Now, 2005)



"Candy Darling on Her Deathbed" é a foto, linda, do Peter Hujar que cobre o segundo disco do "Antony and the Johnsons". O álbum fala muito de inadequação de gênero, de maneira quase sempre lírica, e não foi nada gratuito o uso justamente da imagem de um dos ícones, superstars, da "Factory" do Andy Warhol (personagem e inspiração de canções emblemáticas como "Candy Says" e "Walk on the Wild Side", do Lou Reed e, dizem, "Candy", do Iggy Pop), vítima de um câncer em decorrência do excesso de hormônios utilizados para mudança de sexo.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

The Kills - The Last Goodbye



Dói.

Antony Hegarty - Future Feminism



A questão de gênero e, principalmente, de transcendência de gênero, é fundamental em todo o trabalho do Antony, e não só no seu projeto mais conhecido, "Antony and the Johnsons" (cujo álbum de 2005, "I Am a Bird Now", trazia na capa uma belíssima foto da transexual Candy Darling em seu leito de morte). O próprio Antony se considera hoje um transgênero, se medicando com hormônios femininos. Ele falou um pouco sobre isso em entrevista ao site da "Dazed & Confused".
O texto do áudio acima mostra um pouco de suas concepções que buscam unir gênero, ecologismo e pacifismo. Racionalmente, é o samba do crioulo doido, sem muito sentido mesmo. Mas só de ouvir o Antony interpretando-o (não existe outra palavra), fica uma sensação, de fato, transcendental.

Kim Gordon: "We Need a Pussy Riot"



Falar bobagem ou repetir chavões requentados são os maiores riscos que se corre ao se comentar assuntos onipresentes nos noticiários. E, talvez por juntar música e política, esse caso da prisão e condenação das moças da banda russa "Pussy Riot" tem sido divulgado à exaustão, proporcionando algumas discussões e opiniões relevantes e outras tantas que beiram o constrangedor. A sempre interessante Kim Gordon não decepcionou e falou uma meia dúzia de coisas estimulantes.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Joe Strummer em Mystery Train (Jim Jarmusch, 1989)



2012 é o ano de ao menos duas grandes efemérides para Joe Strummer: o genial líder do "Clash" faria 60 anos de idade hoje, caso não houvesse morrido há uma década atrás. Sua discografia indispensável está ao alcance por alguns meros cliques aqui na rede, mas vale lembrar também sua participação no jarmuschiano "Mystery Train".

Peter Griffin - Surfin Bird



"Oh have you not heard? It was my understanding that everyone'd heard."
Clássico!!!

domingo, 19 de agosto de 2012

The Dark Knight Rises (Christopher Nolan, 2012)



Batman, o bilionário blasè que vive salvando sua cidade, sempre foi considerado um herói ambíguo. É isso que os fãs do personagem adoram repetir, ressaltando uma certa profundidade não encontrada nos outros super-heróis. Ele também não teria super-poderes - o que não é verdade, já possui o mais palpável de todos, o dinheiro. Em "Dark Knight Rises", última parte da trilogia do Cavaleiro das Trevas concebida por Christopher Nolan, o herói, a certa altura, perde seus superpoderes. Bruce Wayne perde toda sua fortuna com apostas de altos riscos na bolsa de valores. É Nolan, que no filme anterior da franquia fez o homem-morcego ir até a China recuperar o dinheiro roubado dos trabalhadores americanos, incorporando o zeitgeist à sua nova obra. De resto, a ambiguidade suplanta o personagem e se espalha por toda a narrativa - os "99%", manipulados, se vingam atabalhoadamente dos privilegiados "1%" (pra, no final, aprenderem a lição e tudo voltar a ser como era antes); a contraposição entre o indivíduo que busca fazer justiça com as próprias mãos e toda a patética e ineficiente estrutura repressora oficial (polícia, governo); a vulnerabilidade dos personagens em um filme de ação ("Dark Knight Rises" deve ser o longa do gênero onde mais aparecem personagens com os olhos marejados, quando não chorando copiosamente). Em que acredita Nolan: no indivíduo ou na sociedade, no super-herói e nos pequenos heróis (que só acertam quando agem individualmente) ou na polícia? No fim das contas, são essas as questões que vão delimitar a fronteira que separa o puro entretenimento de uma diversão mais consistente.
"Dark Night Rises", como desfecho de uma trilogia grandiosa, é um filme que busca insistentemente ser grande, o maior de todos. Essa insistência sai algumas vezes pela culatra, como quando opta por uma trilha-sonora demasiado épica do Hans Zimmer e uma duração que poderia ser ao menos uns 45 minutos mais curta, sem grandes prejuízos para a narrativa. Mas Nolan é bom no mise-en-scène, conta com um personagem já clássico e com muito dinheiro para fazer um filme tecnicamente impecável. Se a escolha de Christian Bale e Anne Hathaway  para viver o casal central não é das mais felizes, com o resto do elenco o diretor fez um gol de placa: Michael Caine continua exibindo sua elegância de outro mundo; Gary Oldman beira o excepcional com seu Comissário Gordon finalmente dizendo a que veio; Joseph Gordon-Levitt é a escolha certeira e nada surpreendente para o personagem que afinal se revela; Tom Hardy segura bem um vilão sem qualquer charme ou carisma; Marion Cotillard confirma ser, ao lado de Tilda Swinton, a atriz mais interessante do cinema atual; Cillian Murphy reincorpora Jonathan Crane de maneira mais solta e anárquica; e é sempre um prazer rever um Mathew Modine inspirado. Nolan caminhou com cuidado por aquela fronteira entre o mero entretenimento e a consistência e, se ele pendeu para algum lado durante o trajeto, possivelmente foi para o segundo.          

Album Cover: Elvis Costello (This Year's Model, 1978)



O segundo álbum do Elvis Costello, "This Year's Model", é ainda hoje o meu preferido de toda a discografia do artista. Um dos pontos altos do momento "New Wave". A capa hipster é do Barney Bubbles.

sábado, 18 de agosto de 2012

Lou Reed & Antony - Candy Says



Em 2008, foi lançado o DVD do show no qual Lou Reed tocava na íntegra o seu hoje cultuado álbum "Berlim", de 1973. Quem dirigiu foi o artista plástico e cineasta Julian Schnabel. "Candy Says" não fazia parte daquele disco, e sim abria o terceiro álbum do Velvet Underground, de 1969.

Viagem à Lua (Le Voyage Dans La Lune, George Méliès, 1902) - Music by Air

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Luis Humberto - Crianças (1971)




Album Cover: Thom Yorke (The Eraser, 2006)


O ótimo álbum solo de estreia do Thom Yorke conta com uma das mais interessantes capas dos últimos tempos, trabalho de Stanley Donwood, responsável pela arte da capa de todos os discos do Radiohead desde "The Bends".



Outras belas imagens pontuam o projeto gráfico do disco.






domingo, 12 de agosto de 2012

Laurie Anderson - Speak My Language (de Fallen Angels, Wong Kar-wai, 1995)



A música desempenha um papel-chave nos filmes do Wong Kar-wai, quase como um personagem extra. O excerto acima é um dos mais luminosos da carreira do diretor (entre tantos outros...), de uma delicadeza e elegância raramente vistas em uma cena de masturbação - e torna "Speak My Language", da Laurie Anderson, antológica.

sábado, 11 de agosto de 2012

Soulwax - E-Talking



Names that sound familiar
Secret wounds from failure
Try and look into their eyes
A part of the weekend never dies
There's no tension in your dance
As you try and hold my hand

Late night phonecalls
Try to please all

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Posters Políticos: Our Army is an Army of Liberation of Workers (Victor Koretsky, 1939)

 

Um dos aspectos mais fascinantes da cultura pop é a apropriação de temas e trabalhos pretensamente sérios  para sua posterior massificação - o que permite uma leitura fora do seu contexto original, que muitas vezes sublinha aspectos antitéticos daquele discurso. Posters de conteúdo político são uma riquíssima matéria-prima para esse tipo de jogo. Nesse caso, a extinta União Soviética é fonte inesgotável de obras que entraram para o cânone artístico moderno.
Este poster de Victor Koretsky do início do período da II Guerra Mundial, ao utilizar uma antiga forma de cumprimento russa, não deixa de ser irônico para o público ocidental, principalmente aquele ciente das políticas do atual governo daquele país para com suas minorias.        

Ainda a Movida - Arrebato (Iván Zulueta, 1979)



Não dá pra falar de Movida Madrileña sem citar o incrível "Arrebato", do Iván Zulueta, um dos grandes momentos do cinema vanguardista. A clássica história do artista em crise criativa é contada sem maiores pudores e com generosas doses de originalidade.
Aqui, os colaboradores de primeira hora do Almodóvar, Cecilia Roth e Eusebio Poncela, fazem uma inesquecível releitura da Betty Boop - mas trata-se de um filme que merece ser visto na íntegra (e não é difícil encontrá-lo na rede).

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Almodóvar y McNamara - Suck It To Me (de Labirinto de Paixões/Laberinto de Pasiones, Pedro Almodóvar, 1982)



Pedro Almodóvar é pai e filho da "Movida Madrileña", movimento cultural de cunho libertário que surgiu na Espanha pós-franquista e que atingiu (e dialogou com) praticamente todas as artes e mídias. Depois de décadas sob a repressão de uma das mais longas e conservadoras ditaduras da Europa Ocidental, um certo grupo de boêmios, artistas, intelectuais, junkies etc. puderam dar vazão à liberdade por tanto tempo reprimida. Com muitas cores, sexo, drogas, cultura pop e estética kitsch, popularizaram-se expressões como "Esta noche todo el mundo a la calle" e "Madrid me mata".
Os primeiros filmes do cineasta espanhol ainda estavam muito impregnados desse clima e dessa estética. "Labirinto de Paixões"/"Laberinto de Pasiones", de 1982, é apenas seu segundo longa e, embora com várias arestas para se aparar, já mostrava um autor com impressionante domínio da narrativa e olhar passional (que, paradoxalmente, sempre manteve uma visão distante o suficiente de emitir juízos de valores sobre as ações de seus personagens) - qualidades essas que chegariam perto da perfeição quase 20 anos depois, com "Tudo Sobre Minha Mãe"/"Todo Sobre Mi Madre" e "Fale com Ela"/"Hable Con Ella", que mostram um artista mais sóbrio e maduro.
A provocante letra da música acima (performada pelo cineasta e pelo artista Fabio McNamara) ressalta bem os traços dos espíritos da Movida e do próprio Almodóvar, que, por um tempo, tanto se confundiram.

domingo, 5 de agosto de 2012

Debatendo Religião em A Vida de Brian (Monty Python's Life of Brian, Terry Jones, 1979)



A Vida de Brian/Monty Python's Life of Brian deve ser, ao lado de Ninotchka e Dr. Fantático/Dr. Strangelove, minha comédia favorita de todos os tempos. O retrato irônico com que trata as origens do cristianismo (e a ideia de religião de um modo geral) não passou batido - pelo contrário, gerou polêmica em todos os cantos onde foi exibido e, em alguns casos, proibido. O programa da BBC "Friday Night, Saturday Morning" de 9 de novembro de 1979 dedicou-se a discutir o filme, tendo como convidados o então bispo Mervy Stockwood, o jornalista Malcolm Muggeridge e dois integrantes do Monty Python, John Cleese e Michael Palin. Melhor que os argumentos, só mesmo a fina ironia britânica que os dois lados do debate usam igualmente para expor seus pontos de vista.

Monty Python - Election Night Special



Nos próximos meses, o tema "eleição" ganhará cada vez mais espaço nos noticiários em decorrência da aproximação das disputas municipais no Brasil e presidencial nos Estados Unidos. Nada melhor do que lembrar o hilariante esquete "Election Night Special" do grupo britânico Monty Python em seu programa "Monty Python's Flying Circus", exibido pela BBC nos anos 1970. O humor e as referências são, claro, britânicos, mas o bom telespectador não deixa de notar várias semelhanças com a cobertura feita pela imprensa de um modo geral.

sábado, 4 de agosto de 2012

The Black Keys - Next Girl



Os Black Keys se firmaram como a banda que produz os vídeos mais originais para suas músicas, sempre usando auto-ironia e boas doses de bizarrice e temática kitsch. O vídeo de "Next Girl" é um ótimo exemplo.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Glória Feita de Sangue (Paths of Glory, Stanley Kubrick, 1957) - Final



Stanley Kubrick era de um anti-militarismo feroz. Ele tratou diretamente do tema em "Dr. Fantástico"/"Dr. Strangelove" e "Nascido para Matar"/"Full Metal Jacket", por exemplo, mas nada se compara a "Glória Feita de Sangue"/"Paths of Glory", um dos filmes fundamentais do cinema mundial e particularmente o meu preferido de toda a filmografia do genial cineasta norte-americano. É nesse filme, cujo roteiro conta com a colaboração do grande Jim Thompson, que encontramos os melhores e mais antológicos diálogos "kubrickianos", mas a cena final resume tudo com uma eloquência sem igual.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Scarlet Rascal & The TrainWreck



A "Dazed Digital" destacou a nova banda pós-punk Scarlet Rascal & The TrainWreck, oriunda de Bristol e apadrinhada pelo Geoff Barrow, do Portishead. Eles estão trabalhando no primeiro disco agora, mas com essas referências já mereciam uma espiada - e, sim, o som é bom.





Gore Vidal, Ben-Hur e Messala



O Gore Vidal que fica é o escritor e roteirista arrojado, não o interlocutor que dava ouvidos aos delírios de um Timothy McVeigh.

Ainda Lou Reed - Entrevista Antológica (1974)



- How would you describe yourself?
- Average.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Velho Guerreiro


Lou Reed - This Magic Moment (de Estrada Perdida/Lost Highway, David Lynch, 1997)



Grandes artistas conseguem transformar banalidades em momentos sublimes. Aqui, o clichê "amor à primeira vista" adquire outros contornos com a visão do David Lynch e a versão do Lou Reed para "This Magic Moment". É o filme mais completo do Lynch.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

O Casamento de Kim Jong-un


Tardiamente, este blog reproduz o belo poema lido por Kim Jong-un em seu enlace matrimonial com Ri Sol-ju, ao qual a "New Yorker" teve acesso. Scatterbrain faz votos de felicidades ao Primeiro Casal da grande nação norte-coreana.

My Bride, on this our Wedding Day, I wrote this poem for you:
With arms wide open
Under the sunlight
Welcome to this place
I’ll show you everything
With arms wide open
I’ll show you love and laughter and Disney characters
Snow White, Cinderella, Buzz Lightyear, and Nemo the fish
From every Disney movie ever made except “Mars Needs Moms”
Which really blew
And if Disney claims “intellectual property”
I will destroy Disney Studios in a merciless fireball
They stole all their characters from North Korea anyway
Grumpy the Dwarf was totally based on Dad
I wish Dad was here
He loved looking at things
He’d look at us right now and say,
“Those are two things right there”
And then go look at something else
I’ll never forget the day I proposed to you
And you told me, “You had me at ‘food.’ ”
And so, my bride, I promise:
My love will last longer and go farther
Than North Korea’s mightiest missile
Way longer and way farther
And I will make you grateful every day
That unlike Katie Holmes, you married someone normal
LOL
And everywhere in North Korea, people will celebrate our nuptials:
After the rice is thrown, they will fall to their hands and knees to scoop it up
And the two of us will sing
Hi ho hi ho
As off to work we go
With arms wide open.

Gordon Matta Clark - Cronical Intersect (1975)


Tá (Felipe Sholl, 2008)



Curta do Felipe Sholl vencedor do prêmio Teddy no Festival de Berlim.

domingo, 29 de julho de 2012

Album Cover: Miles Davis (Porgy and Bess, 1959)


O segundo melhor disco do Miles Davis tem a melhor capa entre todos os seus álbuns. A fotografia é do Roy De Carava.

Ordem e Progresso


A Princesa e o Piloto (To aru Hikuushi e no Tsuioku, Jun Shishido, 2012)


"A Princesa e o Piloto"/"To aru Hikuushi e no Tsuioku" é uma bela animação exibida no festival Anima Mundi. Conta a história de um piloto de uma classe inferior que, por seu talento, lhe é conferida a missão de escoltar uma futura princesa para um território seguro, onde ela, então, poderá ser entregue a seu príncipe prometido. As belas cenas, entretanto, são ofuscadas por um hiper-realismo que, de resto, tem sido a ambição de muitas animações. A fotografia e os enquadramentos, por exemplo, parecem querer emular as convenções do cinema tradicional. O que me atrai em animações é justamente sua possibilidade inerente de transcender as regras do realismo e contar histórias livre da gramática narrativa do cinema de "carne e osso". Os filmes de Hayao Miyasaki são um bom exemplo dessa liberdade levada às últimas consequências e servem de modelo para realizadores que queiram fugir da narrativa simplesmente "bem feita" e de "bom gosto" e alcançar patamares realmente memoráveis e, por que não, desconcertantes.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Album Cover: The Velvet Underground & Nico (1967)



Em pleno aniversário de 45 anos, nada como lembrar a capa clássica do Andy Warhol para "The Velvet Underground & Nico", disco que o próprio produziu. Provavelmente o álbum que mais me excitou na primeira audição. Belo, caótico, barulhento, inteligente, melódico, ousado, original, genial.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Moon River (em Tournée, Mathieu Amalric, 2010)



Em 2010, Mathieu Amalric ganhou o prêmio de direção no Festival de Cannes por "Tournée". Não fossem os ótimos números musicais, teria sido um baita exagero.

domingo, 22 de julho de 2012

Tom Waits no Fernwood 2 Night (1977)



Dá pra não achar o Tom Waits incrível?

Febre do Rato (Cláudio Assis, 2011)


Até que não demorou muito para o Cláudio Assis cometer o seu filme em preto e branco. "Febre do Rato" é o primeiro trabalho do diretor desde o populista "Baixio dos Bestas". E não só segue todos os defeitos da obra do cineasta como os amplia a um nível que beira o insuportável. É Assis mais uma vez "denunciando" a realidade da periferia (claro) de Recife, dessa vez por meio de um poeta popular que busca inflamar as massas através de um discurso libertário, muita cachaça e muita maconha. Irandhir Santos, o Deputado Fraga de "Tropa de Elite 2", se continuar nessa toada, corre o risco de se tornar o maior mala do cinema nacional. O que irrita no filme é justamente esse tom "libertário" que, em última análise, não passa de uma visão sectária e maniqueísta do mundo - e nada mais autoritário do que tentar impor seu ponto de vista na base do grito. Assis critica a burguesia (aquela que paga o ingresso para assistir aos seus filmes e costuma enchê-lo de prêmios, talvez devido a algum sentimento de culpa que deva ser expiado), os militares que marcham em um desfile de Sete de Setembro (virtualmente inócuos e uma pálida sombra do que eram décadas atrás) e, lá pro final da fita, mostra uma tentativa de conscientização de classe com os personagens espalhando papéis ao léu pelas ruas de Recife e emporcalhando a cidade - coisa mais ecologicamente incorreta... O diretor acredita ainda que consegue chocar seu público mostrando os personagens queimando fumo adoidado, se masturbando e fazendo sexo (em cenas muito mal-filmadas, diga-se de passagem). Tal qual o protagonista com seus versos, Assis parece inebriado com suas ideias ao ponto de perder a noção da originalidade e da sofisticação do pensamento. Provavelmente o anacrônico da história é ele próprio. Resta saber se o público continuará comprando seu cinema ou, como diria o próprio diretor (de maneira "libertária", claro), vai mandá-lo tomar logo no cu, que é o que ele merece.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Manhã de Carnaval (de Orfeu Negro, Marcel Camus, 1959)



Uma das piores heranças do Cinema Novo foi ter, durante anos, relegado ao desprezo alguns filmes de realizadores que não faziam parte da "turminha". "Orfeu Negro" é um dos casos típicos. Embora a produção seja francesa, o filme foi todo rodado no Rio, com elenco brasileiro, e baseado na peça do Vinícius de Moraes. Os "intelequituais" torceram o nariz. Para eles, era um filme que mostrava apenas o "Brasil folclórico". Nunca concordei com tal julgamento, que, de qualquer modo, não é demérito nenhum. O filme é lindo. E conta com a mais bela trilha sonora da história do cinema brasileiro.
"O Pagador de Promessas", que o Anselmo Duarte adaptou da peça do Dias Gomes, é outro filme que deveria ser melhor avaliado. O cinema da Boca do Lixo, em anos recentes, vem conquistando o reconhecimento devido. Mas sempre valorizamos por aqui aquelas alegorias ruins de doer do Cinema Novo, quando não aquelas adaptações horrorosas do Nelson Rodrigues (das quais merecem destaque aquelas dirigidas pelo Neville d'Almeida, provavelmente o pior diretor brasileiro de todos os tempos).
Um dos arautos do Cinema Novo, Cacá Diegues, dirigiu justamente uma adaptação de Orfeu lá por 1999 ou 2000. É ruim demais - até a trilha do Caetano é frouxa e sem vida. Voltemos ao original.  

Album Cover: Lou Reed & Metallica (Lulu, 2011)


Capa belíssima para um dos discos mais incompreendidos dos últimos anos.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Joy Division - New Dawn Fades



We'll share a drink and step outside
An angry voice and one who cried
We'll give you everything and more
The strain's too much, can't take much more
Oh, I've walked on water, run through fire
Can't seem to feel it anymore

Jeffrey Harp - Chorus (2004)


sábado, 14 de julho de 2012

Hipsters Não Te Salvarão


O passeio de Gabriel Chalita esta manhã, de Higienópolis ao Vale do Anhangabaú, mais a expectativa da pedalada de Haddad amanhã, ou de Soninha no próximo fim de semana, parece ter colocado em pauta o deslocamento alternativo por São Paulo. Só que, como prega o velho clichê, de boas intenções o inferno está cheio. A turma que acompanhava Chalita, por exemplo, chegou a ocupar todas as faixas da rua com suas bicicletas em alguns momentos.
O Salon chama atenção para as limitações de políticas urbanas baseadas em fetiches hipsters, como é o caso das bicicletas em vias públicas. É claro que é importante uma cidade bike friendly, além de ser um bem-vindo sinal de educação, mas não dá pra levar a sério a ideia de se utilizar bicicletas como alternativa real de transporte urbano, principalmente em uma cidade como São Paulo. Como vai direto ao ponto o artigo publicado no site americano, os líderes atuais não têm nada de novo a oferecer, a não ser clichês requentados. Eles não têm ideia do que fazer com lugares e pessoas que ainda não são suficientemente bem-sucedidos e que não têm quaisquer perspectivas de virem a tornar-se cool.

Björk - Crystalline



Direção do Michel Gondry.

Album Cover: The Rolling Stones - Sticky Fingers (1971)


Andy Warhol concebeu o trabalho de arte, Billy Name fotografou e Joe Dallesandro foi o modelo da capa mais clássica de um álbum dos Stones.

Gorillaz - On Melancholy Hill

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Somewhere in California (Jim Jarmusch, 1993)



Curta antológico dirigido por Jim Jarmusch e premiado em Cannes, em 1993. Dez anos depois, Jarmusch reuniu este e outros esquetes em "Café e Cigarros"/"Cofee and Cigarretes".

terça-feira, 10 de julho de 2012

Album Cover: The Good, The Bad & The Queen (2007)



O ótimo projeto "The Good, The Bad & The Queen" foi, nas palavras dos seus próprios realizadores, uma tentativa de reflexão sobre a vida na Londres contemporânea. O projeto gráfico de Will Bankhead e T. Sotter Boys da cidade em chamas traduz à perfeição ideias como "pessoas confusas", "ilha hostil" e "lares solitários". Disco fundamental, projeto gráfico de encher os olhos.