segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Na Neblina (В тумане, Sergei Loznitsa, 2012)
Embora tivesse sido lançado originalmente em 2010, por uma dessas coincidências, só fui assistir ao filme "Minha Felicidade"/"My Joy", do cineasta bielo-russo Sergei Loznitsa este ano, em pleno período turbulento da posse de Vladmir Putin para mais um mandato como presidente da Rússia. Período em que as contradições da ex-República Soviética foram expostas como nunca antes. O filme representou um ótimo diálogo com o momento político, ao radiografar os recônditos de uma violência generalizada, forjada por anos, décadas, de autoritarismo governamental. E tudo isso com uma visão extremamente pessimista, de fazer os irmãos Dardenne parecerem uma dupla de Pollyannas. Foi uma porrada na cara, ou um soco no estômago.
Por isso, as expectativas eram altas quando fui ver esse novo "Na Neblina". E Loznitsa não decepcionou, mostrando ser um dos cinco cineastas mais interessantes do cinema atual. Ao centrar sua narrativa na Bielo-Rússia ocupada pelos alemães em 1942, o autor tem aqui as limitações de seguir uma narrativa propriamente dita - o roteiro é baseado em um romance. Mas o faz de uma maneira tão sublime, e bem menos hermética do que o filme anterior. Aliado à fotografia primorosa e aos planos formidáveis, Loznitsa parece se propor o desafio de usar elementos autorais e artísticos para, enfim, contar uma história no fundo muito simples, mas que evoca elementos já presentes anteriormente em seu cinema, como a relação entre a natureza bruta e a brutalidade das relações, sem fazer quaisquer concessões. Uma via-crucis sem redenção final.
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