domingo, 28 de outubro de 2012
Camp 14 - Total Control Zone (Marc Wiese, 2012)
O documentário "Camp 14 - Total Control Zone" abre tantas frentes de discussões e evidencia tantas peculiaridades que a história de Shin Dong-Huyk, que nasceu e viveu até os 23 anos em um "campo de prisioneiros" na Coréia do Norte, parece nunca esgotar o tema proposto. Não que o diretor Marc Wiese tivesse alguma intenção de ser definitivo - ele deliberadamente se foca na aterradora narrativa de Dong-Huyk, apenas com intervenções de dois ex-colaboradores do serviço de repressão desses campos de prisioneiros, tão abundantes naquele país. Como esses dois desertados do regime escaparam do país e como é a vida que levam na Coréia do Sul? Como foi a adaptação de Dong-Huyk ao seu novo mundo, do outro lado das grades do campo? São histórias que, por si só, já renderiam filmes próprios.
O que permanece, então, é a descrição crua da vida em um campo que, em última análise, é um "campo de morte" e uma sutil genealogia da degeneração de valores morais e éticos que regimes totalitários (e, nesse caso, sua representação mais extrema nos dias que correm) promovem. Um mundo onde a vigilância e denúncia de comportamentos "impróprios" de seus familiares fazem mais sentido do que a ideia de amor para com eles. Wiese pouco intervem no que o ex-prisioneiro tem a dizer - e, pensando bem, por que deveria? É certo que ele usa elementos que são clichês do gênero de documentários, como longas tomadas silenciosas com os entrevistados fazendo banalidades, e só faz uma intervenção irônica ao longo do filme - muito boa, por sinal, quando, após Dong-Huyk prestar a parte mais dramática de seu depoimento (o testemunho da execução de sua mãe e de seu irmão), o coreano é mostrado visitando uma alegre instituição em Los Angeles que se ocupa em defender os direitos humanos na parte norte da península asiática - como que para situar o espectador na quase impossibilidade de se compreender todo o significado do estado de coisas no país dos Kim. E é disso que se trata o filme, afinal de contas: a conquista do objetivo de todo regime comunista - a criação de um "novo homem", com princípios e valores próprios, sempre às expensas do que, no fim, nos faz humanos.
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