domingo, 19 de agosto de 2012

The Dark Knight Rises (Christopher Nolan, 2012)



Batman, o bilionário blasè que vive salvando sua cidade, sempre foi considerado um herói ambíguo. É isso que os fãs do personagem adoram repetir, ressaltando uma certa profundidade não encontrada nos outros super-heróis. Ele também não teria super-poderes - o que não é verdade, já possui o mais palpável de todos, o dinheiro. Em "Dark Knight Rises", última parte da trilogia do Cavaleiro das Trevas concebida por Christopher Nolan, o herói, a certa altura, perde seus superpoderes. Bruce Wayne perde toda sua fortuna com apostas de altos riscos na bolsa de valores. É Nolan, que no filme anterior da franquia fez o homem-morcego ir até a China recuperar o dinheiro roubado dos trabalhadores americanos, incorporando o zeitgeist à sua nova obra. De resto, a ambiguidade suplanta o personagem e se espalha por toda a narrativa - os "99%", manipulados, se vingam atabalhoadamente dos privilegiados "1%" (pra, no final, aprenderem a lição e tudo voltar a ser como era antes); a contraposição entre o indivíduo que busca fazer justiça com as próprias mãos e toda a patética e ineficiente estrutura repressora oficial (polícia, governo); a vulnerabilidade dos personagens em um filme de ação ("Dark Knight Rises" deve ser o longa do gênero onde mais aparecem personagens com os olhos marejados, quando não chorando copiosamente). Em que acredita Nolan: no indivíduo ou na sociedade, no super-herói e nos pequenos heróis (que só acertam quando agem individualmente) ou na polícia? No fim das contas, são essas as questões que vão delimitar a fronteira que separa o puro entretenimento de uma diversão mais consistente.
"Dark Night Rises", como desfecho de uma trilogia grandiosa, é um filme que busca insistentemente ser grande, o maior de todos. Essa insistência sai algumas vezes pela culatra, como quando opta por uma trilha-sonora demasiado épica do Hans Zimmer e uma duração que poderia ser ao menos uns 45 minutos mais curta, sem grandes prejuízos para a narrativa. Mas Nolan é bom no mise-en-scène, conta com um personagem já clássico e com muito dinheiro para fazer um filme tecnicamente impecável. Se a escolha de Christian Bale e Anne Hathaway  para viver o casal central não é das mais felizes, com o resto do elenco o diretor fez um gol de placa: Michael Caine continua exibindo sua elegância de outro mundo; Gary Oldman beira o excepcional com seu Comissário Gordon finalmente dizendo a que veio; Joseph Gordon-Levitt é a escolha certeira e nada surpreendente para o personagem que afinal se revela; Tom Hardy segura bem um vilão sem qualquer charme ou carisma; Marion Cotillard confirma ser, ao lado de Tilda Swinton, a atriz mais interessante do cinema atual; Cillian Murphy reincorpora Jonathan Crane de maneira mais solta e anárquica; e é sempre um prazer rever um Mathew Modine inspirado. Nolan caminhou com cuidado por aquela fronteira entre o mero entretenimento e a consistência e, se ele pendeu para algum lado durante o trajeto, possivelmente foi para o segundo.          

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