domingo, 1 de julho de 2012

A Fracassada Guerra às Drogas


Se, por volta de 1967, o abuso de maconha e LSD tinha implicações, digamos, mais comportamentais, como citado aqui há dois posts, o debate contemporâneo sobre a questão das drogas adquire contornos eminentemente mais políticos. Revista irmã da "Vanity Fair", a "New Yorker" publicou recentemente um excelente artigo sobre a batalha que trava a cidade mexicana de Guadalajara contra cartéis ligados principalmente ao tráfico de metanfetaminas, cujo destino final são quase sempre os Estados Unidos (segundo informações da ONU, anfetaminas superam cocaína e opiáceos e ficam atrás apenas da maconha como a classe de drogas mais consumida no mundo todo). Cidade de cerca de 4,5 milhões de habitantes, que já foi conhecida por sua segurança e sofisticação, Guadalajara entrou na espiral de violência descontrolada que atingiu quase todo o país, contaminando a sociedade, a polícia e a política, sem parecer apontar para uma real solução a médio ou longo prazo. Surgiram organizações criminosas também ligadas à "venda de proteção", a contrabando de produtos e à extorsão de imigrantes ilegais. A eleição presidencial realizada hoje no país, com esperada vitória da oposição, não deverá mudar esse curso.
O caso mexicano evidencia o completo fracasso da chamada política de "Guerra às Drogas", elaborada principalmente pelos EUA a partir da década de 1970. A simples repressão à oferta e criminalização da demanda se provou contraproducente ao não encarar o problema de frente e com todas as nuances que tal tarefa exigiria. Em última análise, uma sociedade livre das drogas é virtualmente uma utopia. O melhor a se fazer seria tentar uma regulamentação mínima desse comércio e um projeto de educação baseado em mais informações e menos preconceitos e dogmatismos. Alguns países europeus chegaram a resoluções com base em políticas de redução de danos. É claro que países como os Estados Unidos, o México e o Brasil, culturalmente mais heterogêneos e socialmente mais complexos, exigiriam soluções baseadas em suas características particulares e seria imperativo considerar a inserção deles no sistema internacional. Mas, como mostra o nível de brutalidade a que se chegou a violência no México e a infiltração do crime organizado em praticamente toda a estrutura do estado, já passou do tempo da ineficiente política de simples repressão ser revista. Caberiam aos políticos enfrentar o problema de frente e com o mínimo de preconceito possível. Mas um mesquinho e ignorante cálculo político impede que o debate suba de nível.

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